Dinheiro há muito está é mal distribuído.
Foi com muito orgulho que recebi a notícia da possível transferência do “nosso” Cristiano Ronaldo, do Manchester United para o Real de Madrid. Primeiro, não é todos os dias que um Português vai para Espanha “trabalhar” (digo eu). Segundo, finalmente quebrou-se o tabu. Penso que é o termo utilizado no meio futebolístico, tabu, interessante palavra, na política também se costuma ouvir… Terceiro, os valores da “transferência” são tão… Como é que hei-de dizer… Tão “gordos”, não… Cheios… também não… bolas, faltam-me as palavras correctas para classificar um número com tantos ZEROS. Bem, os leitores arranjam de certeza uma expressão perfeita, fica assim ao vosso critério. A ser verdade, com as matemáticas a trabalhar, chega-se facilmente a resultados admiráveis.
Vejamos: O desenho anexo, refere o número de ordenados mínimos que se pagam com o valor da transferência, resultado, 208000 ordenados mínimos. Pagava o ordenado a 14762 trabalhadores, durante um ano. Dá para pagar 671 ordenados ao nosso Presidente da República e 885 ordenados ao Primeiro-Ministro. Curiosamente, podemos comprar 269 Ferraris com aquele valor. Esta transferência milionária, ou seja, o valor de que se fala, não vai para os bolsos do craque da bola. Mas que é um verdadeiro atentado à pobreza alheia, ainda por cima, nos tempos de crise que correm, disso não tenhamos a menor dúvida. O Real de Madrid está com certeza a nadar em dinheiro, colocando-se assim na linha da frente da retoma económica, caso contrário, não se estaria a meter nesta, chamar-lhe-ia, incongruência monetária, devaneio financeiro ou delírio económico. Bem podem os nuestros hermanos gritar OLÉ de tanto contentamento. Com o dinheiro a fluir às carradas, lá para aquelas bandas do Santiago Barnabéu, não me admira nada assistir a filas de desempregados, pedintes, banqueiros falidos e ex-funcionárias da Atalaia (ou não), tudo de mão estendida a pedir uma “Real” esmolinha. Nós por cá já estamos habituados. Temos até a expressão: “dê-me um tostãozinho para o Santo António” que é velhinha, eficaz e está sempre na moda (pelo menos uma vez por ano).
Finalmente, quiero dejar una palabra de consuelo a todos los españoles, pêro, prefiero que el dinero se gasta allí, en Madrid, España, de lo que se gasta en Portugal porque, parece que los españoles son más ricos que los portugueses.
Uau, estou a ficar muy bueno a escribir español. É o nosso Primeiro a hablar e eu a escribir. Estamos a ficar tão bons nesta matéria que, não tarda nada, estamos a ser contratados, também, pelo Gobierno Zapatero. Já que falei no nosso Primeiro, aproveito esta ocasião para lembrar o nosso Governo Sócrates, de não “embarcar” no TGV pois, nesta guerra de milhões, 200.000.000 para o arranque da obra é, repito, incongruência monetária, devaneio financeiro ou delírio económico.
Bom, com ou sem espanholadas, o certo é que este negócio de 93 milhões, é uma VERGONHA. Bem verdadeira se torna a frase: O Sol quando nasce, não é para todos.
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In Jornal Cidade de Tomar - 2009-06-19 - Edição N.º 3863
Por: Joaquim Francisco - Tomar - 2009-06-13